O medo da anestesia na cirurgia de varizes

O medo da anestesia na cirurgia de varizes

Apesar de já ter se passado mais de 30 anos que a famosa cantora Clara Nunes morreu devido a uma complicação anestesiológica durante uma cirurgia de varizes, até hoje nos deparamos com pacientes que não querem se submeter à cirurgia de varizes em função daquele acontecimento, ou mesmo porque a ideia de levar “injeção na espinha” parece aterrorizador.

De primeira instância, existem algumas regras básicas. Não se pode generalizar quando o tema é Medicina (nem nunca, nem sempre). Cada caso é um caso e não existem duas pessoas iguais na natureza biológica, mesmo gêmeos ou clonados. O tratamento em um pode trazer resultados diferentes em outro. Outro aspecto é que não há como estar vivo sem viver com algum tipo de risco. Atravessar a rua hoje em dia em São Paulo, estatisticamente, pode ser muito mais arriscado do que muitas cirurgias. A anestesiologia foi uma das especialidades médicas que mais evoluíram e não há como discutir sem conceitos de três década atrás. Ao contrario, é importante referir todo avanço atingido com bases científicas hoje completamente diferentes das que eram utilizadas naquela época.

Os tipos de anestesias indicadas aos pacientes que serão submetidos a alguma cirurgia, não importando a especialidade, são: local, regional (bloqueio) e geral. No que se refere à cirurgia de varizes, na qual a abordagem envolve os membros inferiores, o tipo de anestesia vai depender do porte da cirurgia. A local é suficiente para pequenos cordões varicosos e pode ser realizada no nível ambulatorial. Nos casos em que a quantidade de varizes é maior ou existe necessidade de se fazer a extração de veia safena, o ideal são os bloqueios regionais com os quais o paciente fica anestesiado da cintura para baixo. Na sequência dos trabalhos, antes que o paciente seja anestesiado, é feito um sedativo (pré-anestésico) de forma que não haja o menor sofrimento na hora de aplicar o anestésico por meio de uma punção na região lombar – e isto é tão eficiente que não há a menor lembrança por parte do paciente. Existe uma membrana que recobre e protege a medula espinhal que se chama dura mater. Se o anestésico for feito dentro desta membrana, a anestesia é intradural (raqui). Se for feito fora desta membrana, sem atravessá-la, chama-se peridural.

Analisando o histórico, a cirurgia de varizes era feita inicialmente com a raquianestesia . No entanto, provocava um percentual significativo de cefaleia (dor de cabeça) devido ao extravasamento de liquor (líquido em em que a medula fica embebida). Por causa disso, o paciente tinha que ficar internado por pelo menos 24 horas, em repouso absoluto e sem travesseiro. Isto ocorria porque as agulhas utilizadas eram metálicas, cortantes, grossas e não descartáveis. Em consequência disso, foi substituída pela peridural, o que resolveu o problema da cefaleia, mesmo sendo mais trabalhosa, com maior possibilidade de falha para se realizar, e seu início de ação mais alongado. Além de ser também mais demorada para passar e, então, o paciente habitualmente tem que ficar internado por pelo menos 24 horas.

A peridural ainda é uma boa técnica, mas melhor indicada nas cirurgias de maior porte e quando há necessidade de tempo muito prolongado de anestesia, o que não é o caso da cirurgia de varizes. Então, acabou sendo substituída pela atual e moderna raqui, que preferimos designar como intradural. Atualmente, a intradural é realizada com agulhas muito finas e descartáveis. Com nova tecnologia, estas agulhas  têm orifício de saída lateral e não na ponta, como antigamente, de tal forma que, quando ela é introduzida, não é cortante, mas sim apenas afasta os tecidos (divulsiona). Com isso, o extravasamento do liquor é mínimo, desprezível. Assim, baixou a chance de cefaleia para  0,6%, permitindo que o paciente receba alta hospitalar no mesmo dia. A mortalidade, que sempre foi baixa neste tipo de anestesia, hoje em dia é praticamente zero, para não dizer zero.

A explosão tecnológica da bioengenharia, aliada à moderna farmacologia, com novas drogas e anestésicos, permitiu toda esta evolução também para a anestesiologia e, assim, o cirurgião vascular consegue trabalhar com altíssimo e expressivo grau de segurança.

De qualquer maneira, se houver necessidade, ou se o paciente levantar alguma questão por insegurança, ele pode e deve passar em consulta com o anestesista do hospital onde a cirurgia será realizada. Não raro, o próprio anestesista, diante das condições biológicas e inseguranças do paciente, sugere a aplicação da anestesia geral, com a mesma segurança e possibilidade de alta hospitalar no mesmo dia.

Portanto, podemos concluir que, desde que o paciente não tenha alguma doença que contra indique a anestesia intradural com agulha “micro fina”, não há quem não possa ficar livre de suas varizes ou vazinhos (aplicações múltiplas) sem limites de idade. A condição estética de cada um é de fórum muito pessoal, mas como vimos, há sempre uma possibilidade de se obter uma melhor qualidade de vida, por exemplo, ficando com as pernas mais saudáveis e bonitas. Com certeza, a “síndrome Clara Nunes” foi erradicada e não há mais sentido e razão para se ter medo da cirurgia de varizes. Hoje os estigmas tanto em relação às cirurgias de varizes quanto ao uso de anestesias estão tão eliminados quanto a medicina vascular consegue eliminar essas veias indesejadas.

Dr. Ricardo J. Gaspar

Comments (7)

  1. Vânia

    07 Mai 2018 - 9:48 am

    Me ajudou muito,estava com medo.

  2. jose carlos

    08 Jun 2018 - 10:41 pm

    olá,consegui tirar algumas duvidas,mas mesmo assim fica um certo receio desta anéstesia

  3. jose carlos

    08 Jun 2018 - 10:41 pm

    olá,consegui tirar algumas duvidas,mas mesmo assim fica um certo receio desta anéstesia

  4. Você tem medo de anestesia? - Instituto Vascular

    28 Ago 2018 - 2:09 pm

    […] Hoje, problemas relacionados à anestesia neste tipo de cirurgia são quase zero, como mostramos no artigo completo e atualizado em nosso […]

  5. Flavia

    17 Out 2018 - 3:36 pm

    Eu tirei minhas dúvidas mais ainda tenho receio pela morte da Clara Nunes agente fica com medo

  6. Rosival

    05 Jan 2019 - 12:29 am

    Boa noite me ajudou tirar o medo de fazer o tratamento.

    • vascular

      14 Jan 2019 - 6:47 pm

      Que ótimo saber, Rosival! Nosso objetivo é exatamente compartilhar conhecimento ajudando nossos pacientes e leitores. Tudo de bom e feliz ano novo!

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